A CRIANÇA
"O que seria Real ou Imaginário em um mundo onde visitantes do além ou de outras dimensões entram e saem de forma misteriosa?"
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"Hoje acrescento mais um relato àqueles que postei até então.
Creio que este também será tão extenso quanto os outros dois, mas ainda assim, poderá interessar a alguém.
Nunca pensei em escrever estes relatos, pois até eu mesmo não os consegui digerir ou explicar de forma satisfatória, mesmo que já tenham se passados alguns bons anos desde que ocorreram, mas a pedido de alguns amigos os “passei ao papel”, e já que estavam digitados, resolvi compartilha-los com vocês do site também. O interessante é que detalhes e fatos que nem me lembrava mais voltam a memória com nitidez sempre que sento e começo a escrever..."
Na mesma casa onde ocorreu meu relato anterior, chamado “O Livro Negro”, costumavam acontecer várias coisas sem explicação, e lembro deste, como um dos mais desagradáveis, pois o mesmo pôs a prova, e tem posto até hoje, muitas das crenças que acumulei até aqui. Pois bem, vamos ao relato:
Tive em um dos meus primeiros namoros, uma cunhada que seguia uma religião dita cristã, a qual não me recordo o nome, mas pelo que sei, só existia em nossa cidade na época, pois recém havia sido criada.
Pelo que me recordo, esta seita cristã era uma salada de dogmas e ensinamentos.
Eu, como não via o cristianismo com bons olhos na época e seguia a mesma linha de pensamento ateu de algumas poucas pessoas de minha família que eu admirava, nunca me interessei em ir muito a fundo no assunto, mas sei que eles criam em espíritos descarnados e consideravam a menina em questão como uma “sensitiva”, e eu mesmo a considerava assim, apesar de minhas descrenças, pois mais de uma vez ela parecia “adivinhar” ou ler os sentimentos ou pensamentos nossos e de nossos amigos, falava sobre coisas do nosso passado que teoricamente poucos ou ninguém sabia. Às vezes ficávamos bastante nervosos com as coisas que ela dizia ou sonhava e depois nos contava.
Essa menina costumava dizer que uma criança passeava pela casa onde elas moravam e que mais de uma vez ela havia visto essa criança.
Minha namorada, que detestava falar no assunto, também confirmava a história e eu me limitava a achar graça, pensando que queriam me assustar com uma historinha qualquer.
A casa em questão era bem velha e um tanto feia.
Não conhecíamos a história da casa, mas nos disseram que era muito antiga, e a julgar pela aparência da habitação, estavam certos os que diziam isso.
Em uma tarde de chuva torrencial, ficamos somente eu e minha ex namorada cuidando da casa citada, já que meu ex sogro faria a segurança de uma festa e minha sogra, que trabalhava em mercado, ficava até tarde.
Como costuma acontecer no inverno aqui no sul, pouco depois das 18:00 horas a escuridão já era grande, aumentada pelas nuvens do temporal, que haviam deixado o dia todo com uma aparência de noite.
Como a imagem da tv estava péssima por causa da chuva resolvemos ficar “lendo” no quarto, jogados na cama, somente com a vidraça abaixada, por onde às vezes os flashes dos relâmpagos entravam e podíamos ver a chuva forte caindo sem parar. Tínhamos um abajur fraco ligado ao nosso lado, e os cantos do quarto estavam em sombras, já que “ler” era só uma desculpa esfarrapada caso alguém chegasse de repente, pois o livro mesmo estava jogado nos pés da cama.
Quando ouvimos o barulho de alguém abrindo o portãozinho de ferro lá na rua, olhei rápido em direção ao livro e levei a mão a ele, para preparar o álibi e tomei um susto enorme:
Pude ver em um dos cantos do quarto, com clareza, algo como uma pessoa, de estatura baixa, dando um passo para trás e escondendo-se num dos cantos escuros do quarto, no vão entre a parede e o roupeiro.
Dei um pulo e com um tapa acendi a luz que ao contrário do abajur clareou o quarto todo, inclusive aquele canto, onde não havia pessoa alguma.
Tive um mal estar enorme naquela noite, acho que pelo susto, mas não comentei nada para ninguém, e minha ex também não me fez mais muitas perguntas sobre o meu susto quando expliquei o que havia visto.
Minha cunhada costumava dizer que as vezes acordava com aquela criança a observando.
Mais tarde, quando contei esta história para algumas pessoas, as teorias sobre o que vi foram como sempre muitas, mas todas previsíveis:
Fantasmas, demônios em forma de crianças, duendes e peças pregadas pela mente.
Ainda não escolhi qual delas aceitar como explicação.
Só sei que para aqueles que nunca presenciaram algo parecido é muito fácil pré-julgar e dizer que é coisa de nossa cabeça, e embora não descarte a possibilidade de ter sido enganado por meus olhos, recordo do susto com enorme clareza.
Diego Schirmer - Porto Alegre
Rio Grande do Sul - Brasil